Multiculturalidade não é Relativismo Cultural


Multiculturalidade não é (nem pode ser) sinónimo de relativismo cultural. Em sociedades onde vigora o Estado de Direito democrático e laico e o respeito pelos Direitos Humanos, a integração de culturas dissonantes não deve, em nenhuma circunstância, permitir, entre outros, a normalização do casamento (ou relacionamento sexual) com menores, a perseguição e violência de base religiosa, o castigo das mulheres por adultério, o estabelecimento de direitos cívicos diferentes consoante o género ou a descriminação com base na orientação sexual ou ideológica.
Contudo, sobretudo na última década, em paralelo com um estranho entranhar passivo e generalizado de uma visão kafkiana e infantil da humanidade como uma espécie congenitamente benevolente, foi germinando a crença de que era possível, sem riscos civilizacionais, integrar nas sociedades ocidentais, sem qualquer mecanismo regulatório, indivíduos que não respeitam os princípios fundadores dos Estados de Direito democráticos e laicos.
O chamado movimento Woke recente, marcadamente ideológico, coletivista, intolerante e identitário, contrariando os princípios iluministas que estiveram na base do grande avanço civilizacional da humanidade, associado a uma misteriosa conivência e passividade gerais, começou a trilhar um caminho perigoso para os regimes democráticos. Com o objetivo, mais ou menos explícito, de favorecer eleitoralmente um espetro partidário particular, os wokistas começaram a instrumentalizar grupos específicos de migrantes, relativizando ou mesmo desconsiderando o risco civilizacional que isso acarretava, inclusive para si próprios.
É sabido por estudos evolucionistas que os humanos são uma espécie territorial, propensa à violência. É por isso que há séculos vários pensadores têm defendido sistemas sociais e políticos baseados na reciprocidade, tentando possibilitar uma convivência pacífica pelo princípio do mútuo benefício. Os modelos foram sendo refinados ao longo do tempo e, sobretudo depois da segunda guerra mundial, começaram a consolidar-se em democracias assentes num Estado de Direito Laico e em Direitos Humanos Fundamentais consensualmente estabelecidos.
A irracionalidade e a cegueira têm sido incompreensíveis. Continua-se a negar a transformação social visível nas ruas um pouco por toda a Europa e a ignorar ostensivamente a existência de grupos extremistas islâmicos cujo objetivo, claro e assumido, é revolucionar civilizacionalmente as sociedades ocidentais. Veja-se, por exemplo, como este alerta do João Cotrim Figueiredo não teve qualquer eco noticioso relevante. Em democracias maduras e sensatas não podem existir assuntos tabus. Tudo deve ser noticiado com isenção, sem medo e discutido com transparência e pluralismo. De outra forma, temas mais fraturantes tornam-se propriedade exclusiva de movimentos populistas, engrandecendo-os e enfraquecendo a Democracia. 
A perda da racionalidade e da moderação tem vindo a por em causa o que é realmente importante salvaguardar a todo o custo: a Democracia, os Direitos Humanos e o Estado de Direito Laico. Esta proteção nunca se fará sem regras, nem com um sistema social assente em ideias pueris e irrealistas sobre a natureza humana.
Como exemplo do desvario que vivemos e da ausência da virtude Aristotélica da moderação que grassa as sociedades ocidentais atuais, veja-se este discurso de Jorge Sampaio sobre a nacionalidade e a migração  Hoje, seria, muito provavelmente, considerado de extrema-direita…

Mensagens populares deste blogue

Particularidades da Doença Psiquiátrica do Idoso

Multidimensional Study of the Attitudes Towards Euthanasia of Older Adults with Mixed Anxiety-Depressive Disorder