Arte

 A Arte é correntemente definida como a expressão da criatividade humana sob diversas formas. Porém, a definição de Arte, a catalogação de uma obra como Arte e a avaliação qualitativa de um trabalho artístico têm variado muito ao longo da História e das culturas. Existem inúmeros exemplos desta variabilidade, tais como:

1) o reconhecimento de genialidade artística a título póstumo, por vezes até pela mesma sociedade crítica que ignorara deliberadamente o artífice em vida. Van Gogh produziu mais de duas mil peças, mas vendeu apenas duas durante a vida. Não conseguiu singrar na pintura e passou fome. Deprimido, acabou por suicidar-se em tenra idade. Franz Kafka nunca foi devidamente apreciado em vida como escritor. Nas vésperas da morte pediu, inclusive, a um amigo próximo que destruísse toda a sua obra não publicada. Porém, o amigo não o fez e o mundo acabou por reconhecer o brilhantismo de Kafka a título póstumo. Johann Sebastian Bach, apesar de hoje ser reconhecido como um dos melhores compositores de sempre, não foi granjeado com esse epíteto em vida;

2) a autenticação artística de criações ou situações insólitas. Recentemente, os visitantes do Museu de Arte Moderna de São Francisco confundiram um par de óculos colocados por dois adolescentes no chão com uma obra de arte (https://www.jn.pt/mundo/mundo-insolito/visitantes-confundem-oculos-com-obra-de-arte-em-museu-5195792.html). A peça “Arte”, de Yasmina Reza, que se tornou um dos maiores sucessos nos palcos portugueses, estreou em 1998 com encenação de António Feio e retrata uma discussão entre três amigos acerca de um quadro branco, assinado pelo famoso pintor Antrios, que um deles comprou por trinta mil euros. A composição “4’33” escrita por John Cage são quatro minutos e trinta e três segundos de silêncio.

 Assim, tendo em conta todos os exemplos descritos, talvez seja uma perda de tempo discutir o que é Arte, bem como a qualidade de uma obra artística. O conceito de Arte e da qualidade artística é idiossincrático e interpretativo e, portanto, não existe no espaço externo do indivíduo como uma verdade inquestionável e universal. Identificamos todos sensorialmente o branco da tela de um quadro. Mas uns interpretam-no como Arte, dado que lhes desperta um significado estético, emocional e/ou filosófico, enquanto outros o reconhecem como uma simples cor, sem qualquer significado interno ou conotação artística.

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