PSD precisa-se


Recentemente militei-me no Partido Social Democrata (PSD). Sempre senti uma forte angústia face ao que considero não estar correcto e um grande apelo interior para agir, alertar consciências, mobilizar a participação cívica e estimular a crítica construtiva. Durante anos resisti em envolver-me numa qualquer estrutura organizada, partidária ou associativa. Porém, farto de missivas e retóricas inconsequentes, decidi inscrever-me num partido com uma ideologia com a qual me identifico e procurar utilizá-lo como veículo de exposição das minhas ideias, esperançoso que elas possam servir de reflexão para a construção de uma sociedade próspera.

A pandemia foi a gota de água que me impeliu a fazê-lo. A situação sanitária que vivemos tornou mais evidentes várias incompetências de instituições da maior importância sanitária e política e fragilidades crónicas de um país mergulhado numa inacreditável complacência geral à esquerda ideológica, oriunda de traumas e complexos do Estado Novo ainda bem presentes num tecido social culturalmente acrítico e “amansado” por uma estratégia de assistencialismo e subsídio-dependência. Assim se tem perpetuado uma visão ideológica maniqueísta e castradora do progressismo necessário a uma nação entregue ao envelhecimento e à ausência de uma estratégia estrutural de desenvolvimento sustentável e com capacidade de resiliência a inevitáveis crises sócio-económicas cíclicas. A tudo isto acresce a minha estupefacção com o actual parlamento, um local onde se assiste a um debate de ideias empobrecido pelo foco em medidas maioritariamente conjunturais, a um escrutínio diminuído ao governo e a uma escassez da crítica fundamental para revelar deficiências e expor diferenças. A crise sanitária, com estrondoso impacto sócio-económico nacional e internacional, exigia, e exige, muito mais de todos. Criticar e apresentar alternativas não é aproveitamento político, antes um dever, arrisco-me a dizer, patriótico.

Assusta-me, também, a passividade geral conivente com responsáveis de instituições cujas intervenções ilustram uma preocupante insensibilidade humana através da menorização e/ou normalização da morte dos mais "velhos" e dos mais frágeis, das dificuldades dos sobreviventes com sequelas clínicas e do sofrimento de entes-queridos. Já vi e ouvi vangloriarem-se de forma bacoca de milagres, premiarem profissionais de saúde com jogos inúteis, afirmarem que todos se portaram muito bem em lares onde faleceram vários idosos e declararem que não é patriótico criticar...

Com 42 anos de idade não me considero, obviamente, velho, mas também, depois de uma vida recheada de vivências positivas e negativas enriquecedoras, não sou ingénuo. Talvez seja, até, um pouco descrente na Espécie Humana. Contudo, acredito que o amor é, provavelmente, a única força impulsionadora de uma mudança altruísta. Lamechas? Depende da interpretação de cada um… Porém, genuíno. É por esse motivo que estou aqui a manifestar aberta e sinceramente a minha opinião, porque quero pelo menos tentar, fazendo uso das minhas competências técnicas, humanas e ideológicas, fazer deste país um lugar melhor para as gerações mais novas, onde se incluem os meus descendentes. Tenho e temos essa obrigação.  A condescendência e sobranceria com que muitas vezes os jovens são tratados são injustas. Dizer-lhes que o mundo lhes pertence e que eles é que têm de fazer dele um sítio melhor é sacudir a água do capote. Claro que a participação cívica e política dos jovens é fundamental. Contudo, é obrigação dos mais velhos deixarem-lhes um mundo melhor do que aquele que encontraram. E para que eles sejam jovens diferentes, mais participativos e interessados, precisam de constatar que a mudança para melhor é possível, de precocemente serem estimulados nos demais meios onde se movimentam a desenvolverem uma autonomia sagaz e profícua e de acreditar na nobreza da política. Em pezinhos de lã tem sido trilhado um caminho nada auspicioso para os jovens com a adopção preferencial de medidas avulsas e sem alcance estratégico de longo-prazo, nomeadamente: 1) nivelando salários por baixo, desincentivando e anulando a meritocracia; 2) tentando controlar costumes; 3) estatizando a actividade económica, criando um mercado de trabalho diminuto, sem competitividade e não atrativo para as pessoas qualificadas; 4) sobrecarregando empresas e famílias com impostos; 5) estrangulando o empreendedorismo e o investimento em Portugal das grandes empresas, nacionais e internacionais, criadoras de emprego; 6) procurando controlar instituições cuja independência é essencial para uma democracia salutar; e 7) estimulando uma sociedade subsídio-dependente e não promotora da autonomia e responsabilidade individuais.

Compreendo a desilusão das pessoas com os tradicionais partidos moderados. De facto, fenómenos como a corrupção e o nepotismo criaram uma descrença generalizada em políticas que eram suposto responder ao legítimo anseio das populações de uma sociedade florescente e meritocrática. Porém, dar voz e poder a movimentos partidários e civis extremistas não é seguramente a solução. São vários os exemplos presentes e passados que o demonstram.

Por isso, numa altura em que navegamos para um modelo de sociedade completamente oposto à social-democracia, a bem do País, é fundamental que o PSD apresente, sem complexos, uma alternativa real, idiossincrática e fiel à sua matriz ideológica, denuncie os atropelos ao coração da democracia e não se deixe seduzir e manipular, tornando-se cúmplice, aqui e acolá, de acções vergonhosas para um Estado de Direito.

 

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