A Profissão Médica
Os médicos fazem o juramento de Hipócrates e comprometem-se com um código ético-deontológico que, no fundo, consagra o princípio da dedicação e da lealdade para com as pessoas e os doentes. Porém, em nenhuma circunstância os médicos, que exercem uma profissão legalmente regulada (com direitos e deveres), juram dar literalmente a própria vida ou a comprometer a própria saúde pela de outro ser humano. Aliás, como é sabido, nos cursos de suporte básico de vida (SBV) é ensinado que, caso não estejam reunidas as condições de segurança que salvaguardem a vida ou a saúde dos profissionais, é legítimo que eles ou não se aproximem da pessoa a necessitar de cuidados (por exemplo, uma vítima inconsciente encurralada num edifício em chamas prestes a ruir), ou não realizem determinadas manobras que coloquem em causa a sua própria saúde (por exemplo, no caso de uma vítima inconsciente e desconhecida, a necessitar de manobras de SBV, que sangra pela boca, é aceitável não fazer as insuflações boca a boca na ausência de material apropriado). Assim, a gratidão generalizada relativamente ao esforço dos profissionais de saúde em geral no combate à Covid-19, manifestada por palmas, cantorias ou epítetos demagógicos como “heróis”, pode ter sido muito romântica e enternecedora, mas não acrescentou (nem acrescenta) nada de verdadeiramente útil à acção desses profissionais. A vasta generalidade dos médicos (assim como, certamente, dos outros profissionais de saúde) não se rege por “palmómetros”! Procuram, sim, exercer a sua atividade profissional com brio, mesmo quando as condições laborais não são as exigíveis. Assim, merecem respeito (sempre, não apenas numa situação de aperto) pela sua abnegação e dedicação e devem poder exercer a sua profissão com rigor, eficácia e com a segurança que as circunstâncias exijam. Afinal de contas, não serão os profissionais de saúde o SNS? (“Não, senhora ministra, não devemos nada ao SNS”).