O estranho prazer de continuar pobre

 


O estranho prazer de continuar pobre

Nasci em 1978. Desde que tenho idade para votar até este momento o PS ocupou funções governativas durante 18 anos e o PSD/CDS cerca de 7 anos. Dos 7 anos em que a Direita Democrática esteve no poder, 4 correspondem ao período da Troika (a terceira visita!), ou seja, a uma altura de extrema aflição em que, falido e devedor por culpa própria, Portugal teve que se sujeitar às condições impostas. Apesar de se poder questionar se as medidas, então consensualmente adoptadas pelas entidades internacionais para responder à crise, terão sido as mais adequadas, a verdade é que, sobretudo para países frágeis e dependentes como o nosso, não havia alternativa senão aceitá-las. O que aconteceu na Grécia é disso prova. O partido Syriza, após ter vencido as eleições com uma retórica anti-austeridade, acabou por se render à realidade. Portanto, de 2011 a 2015, para além de recuperar a credibilidade externa e assegurar a sobrevivência do país, poucas ou nenhumas reformas com dividendos imediatos poderiam ter sido implementadas. Apesar disso, sendo a 3ª vez que Portugal era sujeito a auxílio externo, exigia-se uma reflexão profunda acerca das razões estruturais (culturais e políticas) que nos impelem repetidamente para a falência. Contudo, não só essa reflexão não aconteceu, como, mesmo depois do voto popular ter escolhido para Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho, uma negociata parlamentar à esquerda deu à luz a famigerada “Geringonça”. Nessa altura, a “saída limpa” estava consumada, o governo de Passos Coelho já tinha iniciado a reversão de algumas medidas excepcionais adoptadas sob a égide da Troika e o contexto internacional começava a ser favorável.

          Obviamente, ninguém pode afirmar com absoluta certeza que estaríamos num rumo ascendente e sólido de desenvolvimento e estabilidade sócio-económica se a Direita Democrática tivesse continuado a governar após o último programa de assistência financeira. Outrora, um Governo de Durão Barroso desperdiçara uma oportunidade para implementar as reformas constantemente adiadas. Porém, é factual que 6 anos depois, sob a batuta de António Costa, continuamos pobres, dependentes, sem rumo e vulneráveis… Infelizmente, os números não mentem e são desoladores (ler o artigo “Será este o país que merecemos?” de Jorge Fernandes no Observador).

25 anos depois de 1996 (ano a partir do qual adquiri o direito etário ao voto) o país está envelhecido, vícios culturais persistem, a iliteracia ainda é grande, a população ativa tem uma tendência decrescente, a abstenção nos períodos eleitorais é indesejável e os jovens estão cada vez mais afastados da política e do voto. Sob esta triste amálgama de factores, temos insistido nas mesmas escolhas, esperando, como que por milagre, um resultado diferente!

 Antónios Josés Seguros (defensores da correcção de défices eternos com uma austeridade “doseada”) não têm merecido, habitualmente, a confiança dos partidos e do povo. “Não têm carisma”, diz-se. Pois…Josés Sócrates e artificies de “Geringonças” é do que gostamos…Que estranho prazer em continuar pobre…


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