Calma e racionalidade precisam-se
Homo Sapiens Sapiens, o Homem que sabe que sabe... Nunca antes esta categorização pareceu tão despropositada atendendo à desorientação Mundial actual!
Talvez apenas por simples narcisismo megalómano ou pura irracionalidade, a verdade é que a histeria corrente face à pandemia começa a ganhar contornos surreais!
Depois de uma primeira fase de uma incompreensível e trágica desvalorização quase global (há 2 anos!) da pandemia, parece que hoje estamos a viver uma autêntica distopia de irracionalidade.
Factos:
# Hoje (dia 08/12/2021) em Portugal morreram 197 pessoas, 15 por COVID19. A 08/12/2018 morreram em Portugal 324 pessoas, a 08/12/2019 300 pessoas e a 08/12/2020 390 pessoas, 81 por COVID19 (https://evm.min-saude.pt/ e https://covid19.min-saude.pt/relatorio-de-situacao/).
# Portugal a 08/12/2021 tem 0 mortos por COVID19 entre os 0 e os 16 anos de idade (https://covid19.min-saude.pt/.../646_DGS_boletim_20211208...)
# A 08/12/2020 Portugal tinha 3263 internados em enfermaria e 499 em UCI (https://covid19.min-saude.pt/.../281_DGS_boletim_20201208...), a 08/12/2021 Portugal tem 917 internados em enfermaria e 138 em UCI (https://covid19.min-saude.pt/.../646_DGS_boletim_20211208...)
# A taxa de vacinação completa em Portugal a 08/12/2020 era 0% (as vacinas não estavam disponíveis) e a 08/12/2021 é de 89% (https://ourworldindata.org/covid-vaccinations)
# A taxa de vacinação completa em Portugal a 08/12/2021 é de 89% e na Dinamarca é de 77% (https://ourworldindata.org/covid-vaccinations)
# O número de mortos por COVID19 em Portugal a 08/12/2021 é de 18587 (https://covid19.min-saude.pt/.../646_DGS_boletim_20211208...), correspondente a uma mortalidade de 1830/milhão de habitantes, e na Dinamarca é de 2972 (https://www.worldometers.info/coronavirus/), correspondente a uma mortalidade de 511/milhão de habitantes.
# Do que consegui apurar, quer na Dinamarca, quer em Portugal (pelo menos de forma significativa) ainda não foram vacinadas crianças saudáveis entre os 5 e os 11 anos (https://ourworldindata.org/covid-vaccinations)
# Ainda hoje o vírus da “gripe” (influenza) circula entre nós e provoca mortes (https://www.dn.pt/.../mais-de-3-mil-pessoas-terao-morrido...)
# Desde o início da pandemia, apenas quatro crianças dos 5 aos 11 anos estiveram internadas em UCI com doença Covid aguda, das quais três tinham comorbilidades importantes (https://www.rtp.pt/.../apenas-quatro-criancas-estiveram...).
# Os adolescentes foram vacinados com a promessa de um regresso a uma vida “normal” que incluía uma menor interrupção das aulas presenciais. Contudo, apesar da adesão em massa, continuam a ser enviadas para casa de quarentena turmas inteiras, mesmo os alunos que testam negativo.
# O ECDC (https://www.ecdc.europa.eu/.../interim-public-health...) afirmou que:
a. Severe COVID-19 remains rare among children (of 65 800 notified symptomatic COVID-19 cases in children aged 5-11 years, reported from 10 EU/EEA countries during the period of B.1.617.2 (Delta) variant of concern (VOC) dominance, 0.61% were hospitalised and 0.06% needed intensive care unit (ICU)/respiratory support).
b. the COVID-19 pandemic has affected the physical and mental health and well-being of children aged 5-11 years. Numerous factors, such as disruptions to important everyday social and educational activities, have caused anxiety and distress in this age group.
c. Modelling data indicate that vaccinating children aged 5-11 years could reduce SARS-CoV-2 transmission in the whole population, although the extent and duration of this protection is currently unknown.
d. COVID-19 vaccine safety data in children aged 5-11 years are currently limited, and the level of natural immunity in the unvaccinated and its duration are currently unknown
e. Before taking policy decisions on COVID-19 vaccination in children, potential harms and benefits – including the direct and indirect effects on health and well-being – should be considered alongside the vaccine uptake and epidemiological situation in a particular country
Atendendo aos factos apresentados, parece cada vez mais provável que a almejada imunidade de grupo nunca será alcançada, pelo menos ao ponto de erradicar o Sars-Cov-2. Contudo, e felizmente, parece também evidente que a vacinação dos grupos de risco e maiores de idade teve impacto significativo na prevenção da doença grave e na mortalidade globais. Porém, está ainda por esclarecer tacitamente o real impacto da vacinação na transmissibilidade (por isso, por exemplo, ainda andamos de máscaras em certos contextos, mesmo os vacinados). Acresce que, conforme é constatável pela comparação com outros países, a vacinação não é a única explicação para os diferentes números de internados, mortos, etc.
Por outro lado, a assimetria temporal da vacinação (por motivos logísticos compreensíveis) e a diminuição progressiva da imunidade com o tempo poderão explicar, pelo menos em parte, um menor grau de protecção em Portugal nesta fase (situação que poderá ser corrigida no próximo Outono/Inverno com uma vacinação coordenada e realizada no mesmo período). Os dados do inverno/primavera anterior sugerem sazonalidade da atividade do SARS-CoV-2 o que indiciará a necessidade de uma vacinação eventualmente sazonal.
Por fim, e não menos importante, a vacinação das crianças assume importantes contornos éticos que não devem ser ignorados. A seguinte reflexão impõe-se: qual é o benefício real (e não o presumido) da vacinação das crianças saudáveis (independentemente da aparente segurança das vacinas), quando:
- com quase 90% da população vacinada, a imunidade de grupo desejada e temporalmente duradoura não foi atingida (o que poderá indicar que este objectivo é inexequível);
- não parece existir qualquer benefício clínico directo relevante para as crianças saudáveis (atendendo à raridade da doença grave e à menor gravidade da variante ómicron) ou para a sociedade (89% das pessoas já têm vacinação completa sem atingimento da imunidade de grupo; o impacto da vacinação das crianças na transmissibilidade viral não é claro; os dados do inverno anterior - quando a cobertura vacinal era muito inferior à actual - indicam que a atividade viral muito provavelmente diminuirá progressivamente com o aproximar da primavera/verão);
- as autoridades não esclarecem se as crianças vacinadas que, por exemplo, testem positivo mas que não apresentem sintomas (ou seja, doença verdadeiramente dita) não interromperão as suas actividades lectivas e lúdicas. Ou sequer se as vacinadas que testem negativo regressam no imediato à escola. Ou se as crianças assintomáticas não vacinadas mas com teste negativo regressam, também, à escola no imediato.
Desvalorização da COVID19? Não. Não existem riscos? Existem. Ponderação e prevenção neste Outono/Inverno? Sim. Vacinação racional e com a confiança de que a eficácia e a segurança de curto e longo prazo das vacinas estão asseguradas? Sim. Testagem? Sim. Máscaras e outras medidas preventivas não farmacológicas? Sim. Histeria e irracionalidade? Não.
A continuar assim, um dia ainda seremos confrontados com a necessidade kafkiana de termos que vacinar todos os seres-vivos do planeta (reino animal e vegetal) para erradicar o Sars-Cov-2… Alguém se recorda que há mais de 100 anos houve uma pandemia causada por um vírus cujas variantes, ainda hoje, são responsáveis por milhares de mortes (apesar da vacinação sazonal)?